segunda-feira, 30 de julho de 2007

Wishful Thinking

Contato. Estamos dentro do carro, é meia-noite e o sol ainda brilha sobre nossas cabeças. Aumentamos a velocidade. As manchas no asfalto se tornam borrões e as placas prendem sons a medida que passamos por elas. Há marcas de sangue no porta-luvas. Eu ignoro isso enquanto olho para Lucas ao meu lado. Seu olhar permanece vidrado na estrada e suas mãos apertam a direção tão forte que posso ouvir seus ossos estalando. Uma gota de suor escorre de sua testa e passa do lado do olho. Ele nem nota. No banco de trás, Margaret geme baixinho, numa tentativa tola de fazer com que esqueçamos que ela está lá. Sua dor é tão grande que eu sinto náusea e quase peço para descer do carro. Um som absurdamente alto invade meu universo e ameaça tomá-lo por completo. Tenho a sensação de estar sendo alçado pelos braços e dependurado para secar. Sinto um esparramar quente sobre meu colo e minha cabeça fica leve. Eu olho para a frente e o sol queima minhas retinas como punição. Ouço a voz inflamada de Olívia pedindo a deus que faça disso apenas um pesadelo e ouço-a ser interrompida por um baque doentio. O sol desaparece e mergulhamos em silêncio.

Meses depois, enquanto eu acordo no meio de mais uma noite com os olhos doendo e tentando esquecer aquele som, eu amaldiçôo Olívia e o deus dela. O que ela pediu, aconteceu.

Virou um pesadelo.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Dare to Be You

Ele dá trôpegos passos em direção a um mar sem ondas bem conhecido. Ele olha para os fins da terra e pensa com cuidado sobre suas próximas palavras. Ele lembra dos homens que vieram até aqui neste dia. Todos respeitáveis. De nenhum ele gosta. Todos velhos, lamacentos e empoeirados por uma vida de arrependimentos. Todos escravos da sina que sofrem os homens de serem menos do que eles poderiam ser. E todos estão aqui porque ele tem algo que querem. Agora, todos esperam pelo que ele tem a dizer a seguir. De suas próximas palavras, as ondas que irão moldar seu futuro hão de se propagar. Ele engole seco, fecha os olhos, murmura uma despedida e toma sua decisão. Solene, vira-se em direção aos homens.

-Não.

E se deixa cair para longe deles.

domingo, 22 de julho de 2007

My Take on Plumbing

Vazando.

É uma palavra feia. Em gíria significa que alguém está indo embora. Normalmente é usada para descrever o fenômeno de um líquido qualquer escapar de seu container ou caminho pré-determinado indevidamente. Existe um sem número de coisas que podem vazar. Óleo vaza de carros. Água de encanamentos. Refrigerantes de garrafas. Porém, não são apenas líquidos que vazam. Radiação, por exemplo, pode vazar de reatores. Informações previamente mantidas em segredos podem vazar para o público. Mas o conceito normal - não a gíria - significa escapar de um caminho ou lugar que alguma(s) outra(s) pessoa(s) determinou(aram) que você deveria permanecer dentro.

O Mundo me diz onde devo ficar, como me comportar e o que é importante para eu pensar.

Bite me.

Estou vazando há anos. E não é agora que eu pretendo parar.

Deal with it.

terça-feira, 17 de julho de 2007

Crystal Prison

Ele fecha os olhos perante a tela de cristal à sua frente. A música é parte matemática e parte desespero. Uma corrente de homens caminha nos seus olhos cerrados. Seus longos braços de pele alva e sensível doem como se houvessem erguido uma pirâmide sem qualquer ajuda. O ar chia do outro lado do vidro. Um nevoeiro de tinta avermelhada se espalha e sufoca as estrelas. Um crescendo de sensações, dor, tristeza e saudades surge de repente e ele chora desacompanhado de seu reflexo. Ele abre os olhos e tudo se vai.

Só resta uma tela branca com um cursor piscando.