terça-feira, 22 de maio de 2007

To not belong

Por Thiago Marchetti

Não é assim que eu me lembro.
A cor do céu, o calor da luz, tudo é parecido, mas não é o que eu me lembro. Eu me lembro de praias vazias ladeadas por construções magníficas. Lembro da lareira de casa crepitando e de dormir contando estrelas da minha varanda. Mas eu olho em volta onde estou agora e não há praias, a voz do fogo é estranha e as estrelas da minha varanda não existem mais.
As pessoas aqui são também são diferentes. Seus cabelos são movidos pelo vento e seus olhos desejam uns aos outros em segredo como as que eu conhecia, mas seus corações estão presos. Neste lugar, não acreditar em nada é acreditar em algo. Todas as ações, todas as palavras, todos os suspiros não suspirados pertencem a uma causa. Todos lutam por algo, até mesmo – especialmente – quando escolhem não lutar. Sinto-me perdida aqui, como se fosse um torrão de terra entre jóias brilhantes. É assim desde que cheguei. Desde que fui arrancada de casa.
As memórias daquele lugar se perdem pouco a pouco. Não consigo mais lembrar a forma das conchas na praia ou do lugar das estrelas. Tampouco me lembro dos sussurros do fogo no meu ouvido infantil. Minhas memórias correm como areia da praia por entre meus dedos. Eu olho em volta e nada me lembra de casa. Não consigo fazer parte desse lugar, me sentir viva sob essas estranhas estrelas. Queria ser abraçada por braços fortes e que me dissessem baixinho que vai ficar tudo bem. Todos olham através de mim e enxergam minha dúvida e têm pena de mim por isso.
E eu acordo chorando de noite. Assustada e cansada e sem saber o que fazer. Soluço e olho pela janela até me acalmar. Então fecho os olhos e penso em casa de novo.
Não é assim que eu me lembro.